24.11.07

Freddie Mercury (1946-1991)


"I'll top the bill,
I'll overkill,
I have to find the will to carry on!
On with the show!"

(The Show Must Go On, 1991)

[Faz hoje (24 de Novembro) dezasseis anos que se calou uma das melhores vozes dos últimos cinquenta anos. "Anyway the wind blows"]

Gira-discos Obstinado

Led Zeppelin - III (1970)
Led Zeppelin - Presence (1976)
Neil Young - On The Beach (1974)
Bob Dylan - Modern Times (2006)
Neil Young - Neil Young (1969)
Neil Young - Tonight's The Night (1975)
Love - Da Capo (1967)
Bob Dylan - The Freewheelin' Bob Dylan (1963)
Uriah Heep - Look At Yourself (1971)
Led Zeppelin - II (1969)
Led Zeppelin - Physical Graffiti (1975)
Neil Young - Harvest (1971)
Marianne Faithfull - Before The Poison (2004)
Bob Dylan - Blood On The Tracks (1974)
Led Zeppelin - Houses Of The Holy (1973)
Led Zeppelin - In Through The Outdoor (1979)
Patti Smith - Horses (1975)
Patti Smith - Radio Ethiopia (1976)
Patti Smith - Easter (1978)
Radiohead - Hail To The Thief (2003)
R.E.M. - Reveal (2001)
Radiohead - Kid A (2000)
Queen - News Of The World (1977)
Clã - Cintura (2007)
Clã - Lustro (2000)
Queen - Live Killers (1979)
Led Zeppelin - IV (1971)
The Cure - Faith (1981)
Caetano e Chico - Juntos e Ao Vivo (1972)
Joy Division - Closer (1980)
The Rolling Stones - A Bigger Bang (2005)
Neil Young & Crazy Horse - Weld (1991)
Mutantes - Mutantes (1969)

[Este é o acumulado das últimas quatro semanas, com alguns dos suspeitos do costume. O QCI não quer deixar de agradecer o apoio incondicional dos seus únicos dois leitores. Obrigado Maria Del Sol e Rui Coelho. "Keep on rockin' in the free world!"]

16.11.07

Netcabo

Vimos, por este meio, pedir as nossas sinceras desculpas pelo inesperado interregno deste fantástico blog. Nós, como líder de mercado de serviços de internet e televisão, sentimo-nos demasiado culpados por privar os leitores de tão sábias palavras que transbordam desta relíquia cibernáutica. Assim que o nosso sistema o permitir (leia-se: assim que nos tornármos competentes), o QCI voltará às lides bloguísticas, nem que seja daqui a dez anos. Até lá, os administradores deste pobre folhetim, terão que utilizar esporádicamente - e sempre que o tempo o permita - , as instalações do estado que permitam o acesso à internet de forma gratuita (ou não). Boas leituras, tentaremos solucionar este crasso erro, assim que nos for possível (é que temos andado ocupados com esta coisa do spin-off...).

[Entretanto, o QCI assistiu ao concerto de Patti Smith, a deusa suja do rock, no passado dia 28 de Outubro, no Coliseu de Lisboa, e adianta que foi um dos melhores concertos do ano. Quem queria ver um homem a tocar rock n'roll, e comprou o bilhete para Rufus Wainwright, enganou-se no concerto. Homem do rock, é a senhora Patti Smith. Nunca se teve tão perto de Jim Morrison, como se teve naquela noite. Nem quando os supostos Doors cá passaram. Até Fernando Pessoa bebeu um café com Patti Smith no Coliseu.]

18.10.07

Citação

Estas palavras definem este blog:

"There's a difference between depressing and real. You're not necessarily depressed just because you don't agree with the contrived hapiness of TV culture."

"My songs aren't a journal or a diary. They're just moods."

Elliot Smith (1969-2003)

14.10.07

Impossível Não Ouvir

Vitalogy, Pearl Jam (1994)

[Muitos apontam os dois primeiros álbuns dos Pearl Jam, Ten (1991) e Vs (1993), como sendo os seus melhores. Apesar da urgência e da revolta que se sentiam nesses dois primeiros discos, a verdade é que Vitalogy, foi o disco que os dissociou definitivamente do Grunge e que explicou quais as verdadeiras intenções da banda para o futuro. Do punk sujo de Last Exit, Spin The Black Circle e a inesquecível Not For You, à experimentação de Bugs, Aye Davanita passando pelas típicas baladas "Eddie Vedderianas" como Nothingman, Better Man e Imortality, está lá tudo o que eram (e são) os Pearl Jam. Este sim, foi o disco das camisas de flanela, das calças rasgadas e do cabelo comprido, visual "roubado" a Neil Young (que já se vestia assim desde o final dos anos 1960) por Cobain e Vedder.]

9.10.07

Gira-discos Obstinado

Ok Computer, Radiohead (1997)
Domingo, Gal e Caetano Veloso (1967)
A Arte de Vinicius de Moraes, Vinicius de Moraes (1988)
Antidepressant, Lloyd Cole (2006)
A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, Os Mutantes (1970)
Chico Buarque de Hollanda Vol.3, Chico Buarque (1968)
Chico Buarque de Hollanda Vol.4, Chico Buarque (1970)
#1 Record - Big Star (1972)
Colossal Youth, Young Marble Giants (1979)
Se o Caso é Chorar, Tom Zé (1972)
Tindersticks, Tindersticks (1993)
Curtains, Tidersticks (1997)
(Pronounced Léh-'nérd 'Skin-´nérd), Lynyrd Skynyrd (1973)
Os Mutantes, Os Mutantes (1968)
Mutantes, Os Mutantes (1969)
Trees Outside the Academy, Thurston Moore (2007)

[Há novidades no QCI (estamos por tudo, fazemos qualquer coisa para recuperar as audiências perdidas): a partir deste momento, as rubricas ( "Audição, "Impossível Não Ouvir", "Gira-discos Obstinado" entre outros) que antes apareciam no parte direita do blog, passam a aparecer como posts normais. Estes posts pretendem ser um espelho do que se anda a ouvir por estes lados. Porquê? Não sabemos.]

2.10.07

Silence is here again
The silence is here again tonight
Will the love ever come back?
Will the love ever come back?

I know I've been pushing you away
I know it's been going on for days
Those awkward little things
So endearing
Those awkward little things
Wear on me

See, what we got here is a tired love
What we got here is a lazy love
It mooches around the house
Can't wait to go out
What it needs, it just grabs
It never asks

We sit and watch the divide widen
We sit and listen to our hearts crumble
With our only chance to jump
Neither of us had the guts
Maybe we're just too proud
To say it out loud

Silence is here again tonight

Silence is here again tonight

Trust

"there's no-one left in the world
that i can hold onto
there is really no-one left at all
there is only you"


"Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la" (agradeço a quem me enviou estas palavras, tão simples, mas tão verdadeiras.obrigado.)


TRUST

30.9.07

The Cure: Pavilhão Atlântico, 8 de Março de 2008

"Sometimes i'm dreaming / where all the other people dance"

Robert Smith in Charlotte Sometimes

[Os Cure voltam a Portugal para mais um concerto que o QCI não vai perder. O último concerto em terras lusitanas foi em 2004 no Festival de Vilar de Mouros. Nessa altura, a banda promovia o disco Bloodflowers, e ainda Greatest Hits. Desta feita voltam na digressão do seu novo álbum, ainda sem título, e que sairá no próximo ano. Tudo o que se sabe é que se trata de um disco duplo.]

25.9.07

Tempo #1

É tempo de parar. Já chega. Já não interessa. Há que dizê-lo com todas as letras: acabou. Agora é altura de pensar de outra forma, de descer à terra (eu bem resisti), de me ir embora desta fantasia já velha e gasta. São outros, os tempos. É outra, a minha vida. Merda, acho que sou adulto.

(enrolo o tabaco misturado, dou-lhe lume - com o meu pequeno Bic preto -, engulo o fumo, mantenho, mantenho ainda, solto...a vida recomeçou)

"Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir.Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo. "

Álvaro de Campos

[Este miserável post, é dedicado a todos aqueles que acham que eu devia fazer isto ou aquilo só porque sim. Cegos de merda. Ignorantes. Fodam-se! Estou farto de meninos e meninas - voltem para as vossas mães. Sou livre, foda-se! Gosto de pessoas livres, foda-se! Eu não devo, eu não vou, eu não tenho que. Seres rastejantes e viscosos, morram afogados nas águas estagnadas da vossa mente. Não estou sozinho, conheço uma pessoa livre, e é minha namorada.]

9.9.07

The Piper At The Gates of Dawn: 40 anos


Há vários tipos de admiradores da obra dos Pink Floyd: os que só gostam da fase Syd Barrett (1965-1968), outros que pendem para a fase Roger Waters (1968-1984), outros ainda que se ficam pela fase David Gilmour (1985-1995). Há também aqueles - como nós aqui no QCI - que admiram toda a obra da banda, do primeiro ao último registo. Isto de se dividir a história dos Pink Floyd em três partes, deve-se à diversidade a que a banda sempre nos habituou, e o facto de haver seguidores para cada uma delas, quer dizer que estamos a falar de coisas realmente diferentes umas das outras.

No entanto, é deveras redutor, partir a história em três, quando, em boa verdade, na era Roger Waters, os Floyd inovaram (e inventaram) tanto, que até mesmo nessa fase se pode fazer a separação das águas. Vejamos: Atom Heart Mother (1970), está a milhas de distância (em sonoridade) de Dark Side of The Moon (1973); em Meddle (1971), nem parece a mesma que gravou Ummagumma apenas dois anos antes; os últimos discos de Roger Waters na banda, The Final Cut (1984) e The Wall (1979), nada têm a ver com alguma coisa que eles tivessem feito anteriormente. Há por todas estas razões, todo o tipo de admiradores desta banda. Uns gostam, por que os consideram Rock Progressivo (mas estes, normalmente, não conseguem ouvir nada deles, anterior a 1973), outros porque admiram o psicadelismo e a experimentação de Syd Barrett, e dos discos que se lhe seguiram (estes, têm mais aptidão para gostar de tudo o que os Floyd fizeram, menosprezando, talvez, a fase David Gilmour), e há ainda aqueles, que só gostam da vertente mais Pop de A Momentary Lapse of Reason (1987) e de Division Bell (1994) (este, menos Pop). [Atenção: o Pop de que vos falo, não é o Pop como nós o conhecemos, é um Pop Floydiano. Há que dizer, que nada nos Pink Floyd é vulgar. Estes senhores, simplesmente, não sabem fazer discos maus.]

Tudo isto para dizer, que quem não gosta do que os Pink Floyd fizeram antes do famoso Dark Side of the Moon, não vai ligar nenhuma a esta reedição comemorativa do magnífico disco de estreia, The Piper At The Gates of Dawn (1967). Diga-se de passagem, que mesmo para os fans da totalidade da obra, esta edição tripla, pode vir a não ter um grande interesse, visto que consiste em duas versões do álbum - uma em Mono, outra em Stereo - e um terceiro disco com os primeiros três singles da banda, que durante muito tempo não estiveram disponíveis em suporte digital (em 1992, sairam incluídos na caixa Shine On). Qualquer admirador dos Floyd, já tem tudo isto. De qualquer forma, para quem começou agora, ou já começou há algum tempo mas ainda não tem este álbum, nesse caso, é esta a edição a comprar. Avisa-se desde já aos mais desprevenidos, àqueles que estão habituados a ouvir o The Wall e o Wish You Were Here, isto não tem nada a ver. Este é um disco de Rock Psicadélico ou Underground, como lhe chamavam na altura, o que requer algum conhecimento de música dos anos 1960, e especialmente da fase psicadélica. Estamos aqui a falar de música completamente alucinada, embebida em LSD, tudo num universo bastante bizarro e Barrettiano. Talvez não tenha sido o disco mais estranho dos Floyd, mas anda por lá perto. Aqui há que dar largas à imaginação e deixarmo-nos levar pela fantasia de Syd Barrett. O disco comemora 40 anos, e está hoje tão vivo como em 1967. É uma pérola. Aqui fica um pequeno excerto desta obra genial.

"Lime and limpid green a second scene,
A fight between the blue you once knew.
Floating down the sound resounds
Around the icy waters underground

Jupiter and Saturn
Oberon Miranda and Titania
Neptune Titan, Stars can frighten...you

Blinding signs flap flicker flicker flicker Blam pow pow
Stairway scare Dan Dare,who's there?

Lime and limpid green
The sound surrounds the icy waters under
Lime and limpid green
The sound surrounds the icy waters
Underground..."

Astromy Domine (Syd Barrett)

[O QCI sugere também, as seguintes audições do mesmo período: Pet Sounds, The Beach Boys; Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, The Beatles; The Velvet Underground & Nico, The Velvet Underground & Nico; Surrealistic Pillow, Jefferson Airplane; Revolver, The Beatles; The Doors, The Doors; Their Satanic Majesties Request, The Rolling Stones; Forever Changes, Love; Strange Days, The Doors; A Saucerful of Secrets, Pink Floyd, entre muitos outros.]

Rentrée

Cá estamos nós em mais uma rentrée (utilizo este termo só mesmo porque o acho estúpido). Este é mais um dos recomeços que acontecem ao longo do ano. O primeiro, é à meia-noite do dia um de Janeiro, depois o nosso aniversário, mais tarde é o começo das férias, o fim destas - que é também um recomeço - e a chegada das várias estações do ano. Há outros recomeços mais quotidianos como a Segunda-feira. Achamos sempre que para a semana é que vamos mudar tudo, começando na Segunda-feira. Esse dia é sagrado. É o dia de todos os começos e recomeços. Devia era ser feriado todas as Segundas, este dia já merecia essa honra.

Esta pequena introdução, serviu para dizer que chegou o mês de Setembro. É este o mês que prova que a sociedade nunca se refez dos tempos de escola. Afinal a vida, mesmo para quem não anda na escola, faz-se entre os meses de Setembro e Junho. É claro que os que trabalham e não estudam, trabalham nos meses de Junho e Julho, mas é já a meio-gás ou menos do que isso, pois nessa altura já está calor, as férias estão à porta, e podemos ser menos produtivos e profissionais, porque a vida é assim.

Esta é a rentrée, aquela coisa que vem logo a seguir à silly season (porque será que os portugueses usam termos estrangeiros para tudo?). E nada muda, tal como no primeiro dia do ano. Que coisa chata o ser humano arranjar uma série de momentos simbólicos para tudo e mais alguma coisa. Para mim isto é uma "continuité" (sim, deve estar mal escrito). Continuo a fazer as mesmas coisas: ouvir música (todos os estilos possíveis, de todas as nacionalidades possíveis); ver filmes (muitos filmes): ler jornais (tudo o que for possível ler); ler muitos livros (cof cof).

O QCI, como não pretende ser um blog arrogante, também quer participar na rentrée, daí este regresso ao fim de quase um mês. Aproveitamos então esta altura de supostas mudanças profundas, para dar duas novidades aos nossos queridos leitores que nos entupiram o mail neste último mês (era só reclamações): a primeira, é que os comentários voltaram (vamos lá ver o que acontece desta vez); a segunda, é que a redacção do QCI, decidiu por unanimidade, responder aos comentários - algo inédito na longa história deste fantástico blog.

Conselho de rentrée para os nossos leitores: oiçam muita música (ex: depois de ouvirem o Master of Puppets dos Metallica, oiçam o Kind of Blue do Miles Davis, depois disto passem para o Construção do Chico Buarque, passando desde logo a Cantigas do Maio do grande Zeca Afonso e podem acabar com uns Depeche Mode ou qualquer coisa do género. Sem preconceitos, sem rótulos - mente aberta. Só assim se atinge a sabedoria em qualquer assunto, tendo a consciência de que nada sabemos, nunca).

14.8.07

Ain't Talkin'

Sopa de Letras


Autor: Bob Dylan
Álbum: Modern Times
Ano: 2006


As I walked out tonight in the mystic garden
The wounded flowers were dangling from the vine
I was passing by yon cool crystal fountain
Someone hit me from behind

Ain't talkin', just walkin'
Through this weary world of woe
Heart burnin', still yearnin'
No one on earth would ever know

They say prayer has the power to heal
So pray for me mother
In the human heart an evil spirit can dwell
I am a-tryin' to love my neighbor and do good unto others
But oh, mother, things ain't going well

Ain't talkin', just walkin'
I'll burn that bridge before you can cross
Heart burnin', still yearnin'
There'll be no mercy for you once you've lost

Now I'm all worn down by weeping
My eyes are filled with tears, my lips are dry
If I catch my opponents ever sleeping
I'll just slaughter 'em where they lie

Ain't talkin', just walkin'
Through the world mysterious and vague
Heart burnin', still yearnin'
Walkin' through the cities of the plague.

Well, the whole world is filled with speculation
The whole wide world which people say is round
They will tear your mind away from contemplation
They will jump on your misfortune when you're down

Ain't talkin', just walkin'
Eatin' hog eyed grease in a hog eyed town.
Heart burnin', still yearnin'
Some day you'll be glad to have me around.
(...)

10.8.07

Citação

"I won't be a rock star. I will be a legend. "

Freddie Mercury (1946-1991)

7.8.07

Irreal Social*

Eu odeio centros comerciais. No outro dia perdi-me e fui parar a um desses fantásticos edíficios, ainda para mais, na margem sul e cujo o nome não menciono para não fazer publicidade (só mesmo porque não quero!). A certa altura dou comigo a pensar: todos os centros comerciais são iguais. Sim. Eu sei. Não é preciso ser um génio para chegar a esta conclusão. Contudo, o meu raciocínio levar-me-ia mais longe: se todos os shoppings (também odeio estrangeirismos), esses colossos de consumismo espalhados por todo o país, são iguais, então, todos os seus visitantes ou clientes habituais serão igualmente, iguais, passe a redudância. Esta rudimentar teoria seria confirmada.

Dei uma volta por esse centro comercial e vi as coisas do costume: o namoradinho com ar de cromo e calças baratas à portuguesa, vai com o bracinho em cima dos ombrinhos gordos da namorada horrorosa. Tão angelicais que eles são:ela, com aquele sorriso de Mona Lisa arrependida e ele com aquela cara de quem nunca tinha estado ali. Uns inúteis!Mais à frente paro junto de um cinzeiro para fumar um cigarro (num centro comercial tem que se fumar muitos cigarros), e constato que todos os que passam por mim se vestem da mesma maneira. As mesmas marcas, as mesmas cores. O que me levou, consequentemente, a esta ideia: com tantas lojas diferentes, e andam todos com as mesmas roupas, isto deve querer dizer que há lojas que vendem às toneladas e outras que nem um miserável parzinho de meias vendem a um velhote decrépito! Percebem a ideia?

Num outro corredor, um novo casal de namorados. Estes com ar de casados, aquele ar de frete do tipo: “antes isto que ficar a noite toda a ver a TVI e a morrer de tédio”. Estes gajos, garanto-vos, não sabem o que é sexo há um ano e andam para ali com aquele ar de comprometidinhos como se o amor fosse compromisso. Ele, tem ar de companheiro. Não parece ser namorado ou marido. É companheiro. Ela, enfim, assemelha-se muito ao estilo noiva-cadáver, o que nem é assim tão mau, isto é, há pior, ou seja, ela é horrivelmente feia mas ainda assim conheço casos mais críticos.

Não posso com esses indivíduos com ar de companheiro. Companheiro é, certamente, o pior adjectivo que uma mulher pode utilizar para caracterizar um homem. Se uma namorada minha se referisse a mim nesses termos, estaria tudo terminado. Meninas, desenganem-se! Eu não sou companheiro de ninguém. O companheiro é aquele que acompanha, o que me faz lembrar a palavra acompanhante. Acompanhante, para além de prostituto, também pode ser utilizado como peça decorativa, dependendo dos contextos. Ora! Eu não sou uma peça decorativa!

Passo discretamente por esses majestosos corredores de lojas. As montras, nem dou por elas. Penso: “sou um anti-social. Não gosto de nada, não gosto de ninguém. Sou aquele que simplesmente não encaixa. ”Já nos anos 70, Patti Smith cantava: “Out of society, they’re waiting for me//Out of society, that’s where I want to be”. É isso que eu sinto. Sinto que estou fora da sociedade, e penso nisso como se fosse um crime. É este tipo de repressão que eu vivo em tudo o que faço. Eu não gosto de feriados, de épocas festivas nem daqueles bailinhos da terrinha da nossa infância. Eu não gosto de desportos radicais, ginásios nem música de merda. Eu não gosto de aniversários. Nunca vou a funerais. Casamentos, nem se fala.

Sou um anti-social. Que dúvidas restarão? Este tempo é-me estranho, estes sítios são-me estranhos. Olho para os outros, os que passam por mim, parecem-me bem sucedidos na vida. São pessoas perfeitamente inseridas no sistema. Putos de vinte e tal anos, uns acabaram os cursos outros não, já todos casados, com filhos irritantes aos berros, provavelmente com um carro que não podem pagar e a fazer compras com cartões de crédito. Acho que já deu para perceber que não gosto muito desta gente, certo? Pois bem, no entanto, acho que eles é que são bons. Mais: acho que são melhores que eu. Eles conseguiram sobreviver com o sistema. Eles adaptaram-se. Eu não. Mesmo sabendo que eles não sabem nada. Mesmo sabendo que são meras marionetes. Acho que todos esses acomodados vivem melhor do que eu. A última grande preocupação destes gajos foi: “Meu Deus! Já constroem mais centros comerciais que estádios! Onde é que isto vai parar!”. Ou então têm conversas intensas acerca de uma telenovela juvenil qualquer.

Eu, cá por mim, ando sempre preocupado com alguma coisa. Nem que seja uma notícia num jornal sobre a baleia-xpto-que-está-em-vias-de-extinção-num-mar-qualquer-longínquo-que-ninguém-sabe-onde-fica. Eles não. Eles andam felizes, ou pensam que andam felizes, ou qualquer coisa que os valha. Eles ouvem Michael Bublé (será assim que se escreve?), eu oiço Frank Sinatra. Eles ouvem James Blunt (a revelação do ano, segundo a MTV), eu oiço Neil Young. O que me vale a mim conhecer as obras completas de Piaf ou Brel? E por outro lado, que culpa tenho eu de não gostar daquilo que todos gostam? E ainda assim, nem sei porque é que não gosto dessas coisas, pelo menos, se me pedissem para explicar, eu não o saberia fazer.Só sei que tenho tendência para odiar aquilo que os outros gostam e é por isso que odeio centros comerciais. Porque lá é tudo diferente de mim e eu não me revejo em nada, e para agravar, todos os que passam por mim parecem cópias uns dos outros. Ou serão os centros comerciais que são cópias uns dos outros?

Qual o objectivo deste texto? Não sei. Mentira. Sei, mas não vou dizer porque sou um artista.

Curiosidade: (completamente desinteressante e que ninguém vai ler porque desistiram todos a meio) Este texto foi escrito ao som de No More Shall We Part de Nick Cave & The Bad Seeds.

Agradecimentos: Nick Cave & The Bad Seeds, Centro Comercial Anónimo, aos dois casais de parolos que vos falei e ainda a todos os bimbos ignóbeis que tiveram a infelicidade de passar por mim naquele triste fim de noite. Para esses, que ardam no inferno!

Citações:

“Sarcasm can be a dangerous weapon” (A.A. – Autor Anónimo)

“Misery is the river of the world” (Tom Waits)

*Este texto foi originalmente publicado em Abril de 2006, num blogue já extinto, e que não vale a pena referir o nome. Ashes to ashes, dust to dust.

30.7.07

Everybody Knows

Sopa de Letras

Autor: Leonard Cohen
Álbum: I´m Your Man
Ano: 1988

Everybody knows that the dice are loaded
Everybody rolls with their fingers crossed
Everybody knows that the war is over
Everybody knows the good guys lost
Everybody knows the fight was fixed
The poor stay poor, the rich get rich
Thats how it goes
Everybody knows

Everybody knows that the boat is leaking
Everybody knows that the captain lied
Everybody got this broken feeling
Like their father or their dog just died
Everybody talking to their pockets
Everybody wants a box of chocolates
And a long stem rose
Everybody knows

Everybody knows that you love me baby
Everybody knows that you really do
Everybody knows that you've been faithful
Ah give or take a night or two
Everybody knows youve been discreet
But there were so many people you just had to meet
Without your clothes

And everybody knows.

26.7.07

A impossibilidade de uma amizade

Certa noite, estava eu e a Cláudia-a-Dias em animada conversa num bar qualquer deste mundo, e eis que a referida criatura, às tantas, se sai com esta: "Eu sou a melhor amiga que tu podias ter!", e diz isto com um ar muito convicto e certo de que nada a poderia contrariar. Ora eu, pasmado com tais palavras, apresso-me a perguntar-lhe o que a leva a dizer uma monstruosidade daquelas: "O que te leva a dizer isso? Justifique-se por favor!", ao que ela responde descontraídamente como quem não quer a coisa: "Então, porque sou uma amiga que te ouve e que te ensina coisas!". Confesso que nunca tinha ouvido tão perfeita descrição da amizade, ainda assim mostrei uma moderada indignação dizendo simplesmente: "Chocas-me!". A resposta que obtenho é esta: "Claro que sim! Eu sou um pára-choques!"

É com piadas destas que se perde uma amizade.

18.7.07

Patti Smith em Portugal

"I haven't fucked much with the past, but I've fucked plenty with the future."

Ora aí está uma daquelas notícias que deixou o QCI deveras feliz: Patti Smith está de regresso aos palcos portugueses. O concerto é no dia 28 de Outubro no Coliseu de Lisboa.

17.7.07

Syd Barrett: The Madcap Laughs

No dia 7 deste mês passou um ano desde a morte de Syd Barrett. Um dos maiores mistérios do universo rock dos últimos quarenta anos que, na verdade, já andava "desaparecido" desde 1972. Fundador, vocalista, guitarrista e principal compositor do soberbo disco de estreia dos Pink Floyd - The Piper At The Gates Of Dawn (1967, em Setembro serão assinalados os quarenta anos do álbum com uma nova edição tripla) - é hoje visto como aquele-que-podia-ter-sido-mas-nunca-foi, o génio que virou as costas ao sucesso, ao glamour, ao estrelato inerentes a uma estrela rock.
Syd Barrett saiu dos Pink Floyd em 1968, quando a sua saúde mental estava já num estado muito degradado. Recusava-se a tocar em alguns concertos, não respondia às questões dos jornalistas, desaparecia com frequência, ficava horas a tocar o mesmo acorde entre outros hábitos cada vez mais bizarros. Tendo em conta este comportamento, os restantes membros da banda (Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason) já se tinham prevenido com a inclusão de David Gilmour (guitarra e voz) o que terá feito dos Pink Floyd um quinteto durante um curto espaço de tempo, até que um dia, segundo Gilmour, a caminho de um concerto, simplesmente optaram por não ir buscar Barrett e foi assim que este deixou de ser membro da banda.
O segundo disco dos Floyd, A Saucerful of Secrets (1968), continha ainda uma última composição de Barrett intitulada Jugband Blues, interpretada pelo próprio, que fechava o disco envolto numa neblina misteriosa e alucinada. Posto isto, em 1970, e com a ajuda preciosa de Waters, Gilmour (que era amigo de infância de Barrett) e Wright, ainda lançou dois intrigantes discos - ambos em 1970, primeiro The Madcap Laughs, depois Barrett - para pouco mais tarde se eclipsar totalmente e viver praticamente o resto da vida em casa da mãe em Cambridge (onde morreu no ano passado). Muitas foram as tentativas ao longo de mais de trinta anos de entrar em contacto com Syd Barrett, mas este escusou-se a falar da sua vida com os Pink Floyd a maior parte das vezes, mostrando um desinteresse total por tudo o que fez nessa altura.
Estas foram as suas últimas palavras escritas para os Pink Floyd em 1968 e que demonstram o quão alienado estava Barrett já nesta altura, sendo que o mais assustador ainda é dar a entender que tinha consciência do que lhe estava a acontecer:

"It's awfully considerate of you to think of me here
And I'm most obliged to you for making it clear
That I'm not here.

And I never knew the moon could be so big
And I never knew the moon could be so blue
And I'm grateful that you threw away my old shoes
And brought me here instead dressed in red

And I'm wondering who could be writing this song."

Até hoje poucos foram os que conseguiram igualar o génio de músicas como Astronomy Domine ou Interstellar Overdrive. Barrett foi sempre um fantasma na carreira dos Pink Floyd, sendo referido e servindo de inspiração para alguns dos pricipais discos da banda nomeadamente The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975, a faixa que dá nome ao álbum é-lhe dedicada), The Wall (1979) e The Division Bell (1994). Syd viveu sempre de costas viradas ao sucesso cada vez maior que a sua banda veio a atingir nos anos seguintes à sua saída. Terá sido mera loucura? O mistério prevalece. The Madcap Laughs.

11.7.07

#2

Era nessa altura que ela subia e descia as avenidas daquela cidade abandonada à noite. Entrava nos bares, sozinha. Bebeu muito de Woody Allen com Marlon Brando e Chet Baker. Era a sua combinação preferida. Os homens fitavam-na com estranheza. O que faria uma mulher, todos os dias sozinha, naqueles bares, fazendo aquelas estranhas misturas? Era bonita, pedia as bebidas com uma segurança e firmeza que asseguravam que sabia muito bem o que fazia e o que queria. Não era uma bêbada, não era uma inútil e seguramente não era puta. Os homens daqueles bares respeitavam-na. Compreendiam-na. Na velhinha jukebox, sempre a mesma música: Nina Simone, e ao ouvi-la, acendia um cigarro, bebia o que estava no copo de uma vez só e pousava a cabeça sobre a mão como se nunca mais a fosse levantar. Era um lugar comum. Eles sabiam-no. Ela sabia-o. Ela era intocável.
Ao fim da noite, já nos bares que ficam perto do rio, sente-se o ar húmido e o cheiro característico da água que bate nos muros. Vêem-se pequenos caranguejos que aparecem sobre a pedra humana. Ela debruça-se sobre o corrimão observando tudo isto, apanhando o relento fresco, por vezes aconchegante, único e fiel companheiro daquelas noites urbanas e azuis. Ouvem-se os primeiros barcos, partem os primeiros autocarros, vêem-se as primeiras pessoas indo para o trabalho. Era sempre assim, todas as noites acabavam naquelas manhãs cansadas e cinzentas. O olhar fixo no horizonte, o vento nos cabelos longos e ondulados. Um último copo, Gainsbourg com duas pedras de gelo e Brel com um pouco de Piaf para acrescentar amargura. Escreveria quando chegasse a casa, se pelo menos se lembrasse do caminho. É então que uma voz masculina se ouve quase ao seu lado: Mariana, és tu?

4.7.07

Arcade Fire, SBSR, 3 Julho



Os Arcade Fire conseguiram o mais improvável: arrastar o QCI para um festival. Só mesmo a banda canadiana para nos levar para aquele desterro onde a cerveja se vende ao preço do ouro e onde não há transportes quando os concertos acabam!
O concerto foi épico. Bem sei que esta é a palavra mais vulgarmente usada para descrever os concertos dos Arcade Fire, mas não é fácil encontrar outro adjectivo que descreva na perfeição o que se passa nos concertos destes senhores.
Como pontos altos e orgásmicos, destacamos No Cars Go, Rebellion (Lies), Neighborhood#3 (Power Out) e, claro, Wake Up para um final em grande. Talvez tenha faltado Crown of Love, In the Backseat ou mesmo Cold Wind mas não havia tempo para tudo.
Na nossa modesta opinião, os Arcade Fire são a melhor banda desde os Radiohead, e quem não gosta deles, não tem coração.

"Purify the colors, purify my mind and spread the ashes of the colors over this heart of mine."

2.7.07

Citação

Woddy Allen
(n.1935)

"Basically I am a low-culture person. I prefer watching baseball with a beer and some meatballs."

29.6.07

Dogs

Sopa de Letras


Autor: Roger Waters, Pink Floyd
Álbum: Animals
Ano: 1977

"You gotta be crazy, you gotta have a real need
You gotta sleep on your toes, and when you're on the street
You gotta be able to pick out the easy meat with your eyes closed
And then moving in silently, down wind and out of sight
You gotta strike when the moment is right without thinking.
And after a while, you can work on points for style
Like the club tie, and the firm handshake
A certain look in the eye, and an easy smile
You have to be trusted by the people that you lie to
So that when they turn their backs on you
You'll get the chance to put the knife in."
(...)




16.6.07

The Smashing Pumpkins: Are they still just a rat in a cage?

Os Smashing Pumpkins voltaram e Portugal já teve a oportunidade de assistir a esta nova encarnação da banda, no festival Oeiras Alive 07. É um retorno em grande: digressão e novo álbum na forja, intitulado Zeitgeist, com lançamento previsto para o próximo dia 10 de Julho. Até aqui tudo bem, não fosse Billy Corgan chamar ao acontecimento reunião. É que de facto, da formação original, já só restam Corgan e o baterista Jimmy Chamberlin, e mesmo neste caso não se trata de uma reunião destes dois, pois este último já tinha feito parte do disparatado projecto Zwan - que se resume a um disco, Mary Star of the Sea (2003) - e ainda participou no dispensável disco de estreia a solo do vocalista dos Pumpkins, The Future Embrace (2005). Com isto, é óbvio que estamos a falar da ausência dos outros dois membros fundadores dos Pumpkins: James Iha (guitarra) e a sempre misteriosa baixista D'arcy. Segundo a Wikipedia, nenhum dos dois aceitou participar nesta "reunião" até porque as relações com Corgan continuam algo conturbadas, contudo, existem outras versões que alegam que o guitarrista e a baixista nunca chegaram a ser convidados. Desta forma urge a questão: o que terá levado Billy Corgan a ressuscitar uma banda que acabou há menos de sete anos?
Aqui no QCI acreditamos que este regresso não se justifica e deve-se apenas ao insucesso de Corgan pós-Pumpkins. Aquele que chegou a ser, provavelmente, um dos compositores mais prolíficos do Rock nos anos 90, pouco fez na presente década para confirmar os seus créditos e daí a necessidade de fazer regressar o nome da sua antiga banda. Em declarações ao Chicago Tribune em 2005, Billy Corgan expressava a sua vontade de fazer renascer o seu grupo de sempre dizendo: "Quero a minha banda de volta, as minhas canções e os meus sonhos." Ora, a banda de volta não aconteceu, pois faltam dois dos membros fundadores, quanto às suas canções Corgan podia tocá-las a solo e não vemos porque razão os seus sonhos terão que passar obrigatoriamente pelos Pumpkins. Desta forma parece-nos que tudo isto se trata de um natural aproveitamento do legado de uma das bandas mais importantes da década de 1990. Não será, certamente, nada de tão escabroso como aquilo que andam a fazer os membros sobreviventes dos Doors ou dos Queen, mas ainda assim é digno de se olhar de lado para este regresso algo repentino e duvidoso, isto, numa altura em que já quase todas as bandas se reuniram e cujos resultados raramente foram superiores ou sequer iguais ao que se tinha produzido no passado.
Será falta de criatividade? Esperemos pelo novo disco que acabará por ser um dos mais importantes na carreira de Billy Corgan, no sentido em que será este o disco que nos dirá se Corgan, um dos compositores mais angustiados, atormentados e revoltados dos últimos quinze anos, terá ainda alguma coisa para dizer ao mundo. Esperemos que sim.

12.6.07

Love Sick

Sopa de Letras
Autor: Bob Dylan
Álbum: Time Out of Mind
Ano: 1997

I'm walking through streets that are dead
Walking, walking with you in my head

My feet are so tired, my brain is so wired

And the clouds are weeping

Did I hear someone tell a lie?
Did I hear someone's distant cry?

I spoke like a child; you destroyed me with a smile

While I was sleeping

I'm sick of love but I'm in the thick of it
This kind of love I'm so sick of it


I see, I see lovers in the meadow
I see, I see silhouettes in the window

I watch them 'til they're gone and they leave me hanging on

To a shadow

I'm sick of love; I hear the clock tick
This kind of love; I'm love sick


Sometimes the silence can be like the thunder
Sometimes I wanna take to the road and plunder

Could you ever be true?

I think of you
And I wonder


I'm sick of love; I wish I'd never met you
I'm sick of love; I'm trying to forget you


Just don't know what to do
I'd give anything to

Be with you

8.6.07

Top 5

1.The Beatles: Abbey Road (1969)

2.Love: Forever Changes (1967)

3.Pink Floyd: The Dark Side Of The Moon (1973)
4.The Velvet Underground & Nico: The Velvet Underground & Nico (1967)

5.Tom Waits: Swordfishtrombones (1983)

3.6.07

Citação

"O amor é bem melhor na imaginação do que na realidade. Nunca o fazer é muito excitante, as atracções mais fascinantes produzem-se entre pessoas que nunca se encontram."

Andy Warhol
(1928-1987)

Treinos de Captação

Não há quem não tenha já dito, numa qualquer conversa de café, que a profissão que devia ter escolhido era a de jogador de futebol. Dizemos estas coisas quando lemos na imprensa que Cristiano Ronaldo ganha 1000 euros por segundo ou que Luís Figo ganha milhões sempre que pisca os olhos. É claro que este tipo de rendimentos não está ao alcance de qualquer um. Nem mesmo os melhores ordenados do pequenino campeonato português são destinados a um qualquer que seja meramente "jeitoso pá bola" ou que "até dá uns toques".
Perguntam-se neste momento os meus três leitores: "mas que raio de conversa vem a ser esta afinal?" Passo a explicar: é que, quando vemos o Nuno Gomes a jogar, pensamos que afinal também nós poderíamos ter sido jogadores de futebol e que deveríamos ter levado mais a sério os treinos de captação do Amora.
Ao Nuno Gomes bastou ter uma carinha laroca, uma fitinha no cabelo e o apelido de um verdadeiro goleador (Fernando Gomes) para singrar no futebol português (sim, porque no futebol italiano recambiaram-no logo!). O Nuno "Golos", como os simpáticos adeptos benfiquistas lhe chamam, não se esforça muito, e eu, no lugar dele, faria exactamente o mesmo, isto é, nada. É que o rapaz sabe que, mesmo que não marque golos, todos vão continuar a referir-se a ele como sendo um goleador, as miúdas continuarão a suspirar, os treinadores a apostar nele jogo após jogo, e mês após mês lá vão continuando a cair na conta mais vinte mil continhos mais coisa menos coisa. Querem melhor profissão que esta?
Scolari, esse é que ninguém engana. É sabido que o homem vem lá da terra do Samba, e sabe que o avançado português nem para servir caipirinhas num jogo brasileiro de terceira divisão servia.
O que não se percebe, é como é que o Hélder Postiga tem quase os mesmos privilégios sem nunca ter usado a essencial fitinha!
Já que falamos de futebol, aproveito já para fazer uma revelação: descobri no outro dia que o meu segundo clube é o Sporting. Ora, sendo eu benfiquista isto é, no mínimo, de estranhar. Já há uns anos que vinha a desconfiar e agora chegou a hora de assumir. Tenho uma costela sportinguista! Gosto deles pá! O primeiro sinal que me levou a crer que simpatizava com os verdinhos do outro lado da segunda circular foi quando eles se sagraram campeões ao fim de dezoito anos. Festejei aquilo quase como se fosse um campeonato ganho pelo Benfica. Credo, onde é que isto já se viu! Amanhã tenho os No Name Boys a fazerem-me uma espera à porta de casa.
Já do F.C. Porto é que não gosto muito. Aquela massa associativa é um bocado estranha: quando perdem, partem tudo; quando ganham, partem um bocadinho menos. Esta gente é esquisita, nem que seja porque dizem todos os anos que o Benfica é levado ao colo. Não percebo: levado ao colo para onde? Para o terceiro lugar? É sabido que nos últimos vinte anos, quem ganha quase sempre é o Porto! Pelos vistos, para além da incompetência do Nuno Gomes, o Benfica é incompetente até na corrupção...
Esta semana, o Manchester United veio às compras a Portugal. Curiosamente, não compraram nada no Estádio da Luz. Alex Ferguson quando indagado acerca desta questão foi peremptório: "oh no, no! Compras naquela zona só mesmo no Colombo, o resto é para ricaços! Rich Men!" Perguntaram-lhe ainda se tinha conhecimento que Nuno Gomes e Beto estão em Friendly Price, e que na compra dos dois ainda podia levar o Moretto e o Derlei, ao que ele responde sem hesitar: "Friendly my ass!! Não desejo esses jogadores nem aos meus piores inimigos (leia-se Mourinho)! "
Luís Filipe Vieira, por seu lado, não se cansa de dizer que o Benfica é o maior clube do mundo. Se calhar até é, se tirarmos destas contas os países de onde vieram aqueles clubes que, inexplicavelmente, derrotaram o glorioso "maior do mundo", esta época, ou seja, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Escócia...Será que me estou a esquecer de algum? Nem quis aqui incluir os últimos cinco anos, porque se assim fosse, nem na Somália o Benfica se safava!
Enfim, o que interessa é que Portugal ganhou à Bélgica com um golo monumental do Postiga (que tranquilizou desde logo os adeptos portistas dizendo, no final do jogo, que só pensava voltar a marcar um golo lá para Janeiro) e que a época terminou com o Belenenses a passear no Estádio do Jamor.
Como não escolhi usar fitas no cabelo, agora tenho que me ir deitar que já se faz tarde e amanhã é dia de trabalho, enquanto o Nuno Gomes estará numa ilha paradisíaca qualquer. Mas porque é que falhei aquele golo nos treinos de captação?

29.5.07

Sem Título

Acho que sou o poeta da vida real. O que quer dizer, obviamente, que não sei escrever.

22.5.07

Namorar

As pessoas não sabem o que é namorar. Já ninguém tem tempo, ou não quer ter tempo. A malta pensa que namorar é andar de mão dada para todo o lado e dar muitos beijinhos na boca à frente dos amigos.
Meus caros, venho por este meio anunciar que o namoro acaba quando se dá o primeiro beijo. Isto é, acaba quando pensamos que começou. Venho por este meio decretar o fim do namoro. O fim das hostilidades. Namorar é uma seca! Namorar é para os fracos! Já Platão dizia: para seres filósofo e viveres em função da filosofia não deverás ceder às tentações do corpo. Este é o fim de todas as ridículas cedências, da humilhação até ao osso. O primeiro beijo é somente a ponta do iceberg, é o princípio do fim, é a morte da paixão. A partir daí só o pior pode acontecer.
O verdadeiro namoro é precisamente tudo o que se passa antes de haver contacto físico, quando tudo se resume à imaginação de cada um dos intervenientes. É quando há fantasia e mistério no ar e quando só se diz parvoíces. Nesses momentos, tudo nos parece interessante na outra pessoa. Se ele/ela mora em Benfica, isto é por demais fascinante e até o facto de ele/ela trabalhar num restaurante tem o seu quê de misterioso ou mesmo de glamour. Isto sim, é namorar. Aquela sensação no estômago sobejamente conhecida, e, claro, perdida aquando do mortífero primeiro beijo. A partir daí estamos condenados a uma horrível morte lenta com momentos de interminável dor e agonia.
Companheiros, meus caros companheiros tenham a coragem de assumir a vossa solidão. Tenham coragem de viver a vida sozinhos sem contrapartidas, sem cedências. Sejam livres, porra!

21.5.07

Suffer My Desire

Ela já se fartou daquilo tudo. Já não vai ao café com os amigos. São sempre as mesmas conversas, sempre as mesmas brincadeiras tão chatas. Ela sente-se tão fora, tão a mais. Ela não é de lado nenhum, a nada pertence, não é de ninguém. Ela tem cabelos negros e longos que brilham. Ela não está cá. Ela queria outro sítio, outra vida, outro corpo, outra alma. Ela perdeu-se. Naquele olhar profundo, naquela voz desinteressada. Ela perdeu-se. Vagueou pelas ruas, deu pontapés em pedras e latas velhas. Chorou, dançou, gritou. Lindos olhos, grandes, negros, exóticos, perdidos. Ela perdeu-se e eu perdi-me com ela.

"You're lost little girl,
Tell me who are you? "

20.5.07

Construção

Sopa de Letras
Autor: Chico Buarque
Álbum: Construção
Ano: 1971
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contra-mão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Sopa de Letras

Aproveito este dia de chuva para estrear uma rubrica no QCI. Este será um espaço com um único fim: destacar algumas das melhores letras escritas para canções, tendo como critério...o meu gosto pessoal ou simplesmente fases. Naturalmente darei preferência às letras que melhor sobrevivem sem música - o que não é fácil! É provável que se repitam aqui algumas vezes nomes como Bob Dylan ou Leonard Cohen, dado que estes são unanimemente considerados os grandes poetas do rock. É claro que não só de rock viverá esta rubrica, visto que o Brasil também tem muito para nos dar em termos de textos para músicas contando com nomes incontornáveis como Vinicius De Moraes ou Chico Buarque. É precisamente com este último, que decidi inaugurar este novo espaço.

17.5.07

Are You Experienced?

Experiência no abstracto? Claro que não! O que é a experiência? Nada que nos interesse afinal...A experiência é querer ouvir Pink Floyd, Beatles, Morphine... Tomorrow Never Knows e respectivos afilhados. Jeff Buckley, Tindersticks, Love. Tomorrow Never Knows. Surrender To The Void. O que acham disto? Have you ever been experienced? Think Twice.


"Strange days have found us,
And through their strange hours,
We linger alone,
Bodies confused,
Memories misused,
As we run from the day
To a strange night of stone."
~
Jim Morrison in "Strange Days", 1968

11.5.07

Control

Parece que é desta: foi finalmente anunciada a estreia do biopic sobre Ian Curtis (1956-1980), realizado por Anton Corbjin, para Setembro deste ano. Isto, numa altura em que os New Order dão por fim a sua prodigiosa carreira e quando já passaram 27 anos sobre a morte do enigmático vocalista dos Joy Division.

O filme teve como base o livro que Deborah Curtis, esposa do cantor, publicou em 1996 com o nome Touching From a Distance e contou, a espaços, com a participação dos membros sobreviventes da mítica banda inglesa que após a morte de Curtis, viria a dar origem aos New Order. O papel principal chegou a ser atribuído ao actor Jude Law, mas acabou por ir parar ao desconhecido Sam Riley que, curiosamente, nasceu precisamente em 1980.

Em homenagem ao atormentado vocalista, o QCI deixa aqui algumas das suas palavras.

"Some things never make sense,
A fear of stepping out,
Crouches shivering in the corner, blanket round your shoulder,
Hot then cold, cold then warm, pulse is racing, slowly racing - stopped.
I remember nights spent listening to until dawn,
I remember nothing.
Door slowly opens,
Johnny sits on his bed,
Lays down and dies."
Ian Curtis in Johnny 23, 1979

10.5.07

Querer Coisas Impossíveis

Só quero coisas impossíveis. Raios! Só quero coisas impossíveis!

Mas eu nunca vejo mais que os outros. Sou sempre o último a saber das coisas, sou sempre o último a aperceber-me de algo. Enfim, nunca oiço nada à primeira, e quando alguém me está a tentar explicar algo que eu devia forçosamente perceber, é aí que eu disperso e ponho-me a pensar em coisas impossíveis.

Estou a fazer este blog numa noite em que me sinto arrasado pela frustração, e assim decidi fazer uma coisa, que à partida, eu sei que será impossível manter. Porquê? Porque sou um coitadinho que acha sempre que não consegue fazer as coisas só porque a vida é muito difícil, ou porque isto ou porque aquilo e mais um monte de desculpas forçadas a fim de justificar a inércia e o comodismo (passe a semi-redudância) que dominam o meu dia-a-dia.

Escrevo este blog, porque assim penso que faço algo de criativo e muito bom. Para me sentir bem, por achar que vou ser alguém por causa disto. Por achar que sou um gajo com pinta e talento que nunca vai ser ninguém, que sabe disso, mas que no fundo, até é isso que tem uma certa piada e o incita a continuar com os seus devaneios que não levam a lugar algum.
Há aqui um certo egoísmo. Para quem é que eu não sei. Em última análise, sou simplesmente egocêntrico e escrevo estas palavras por me achar o maior. É que assim já posso dizer: "durante o dia trabalho num café, mas à noite faço coisas muito interessantes como escever e tal...". Assim sou muito underground!!! Sou alternativo, "ele é dos nossos", sei o que quer dizer a palavra hype!

É impossível que eu mantenha por muito tempo este blog. É quase tão certo como ninguém ler esta merda. Bom, já que disse uma asneira, olhem, que se foda! A partir de agora é mesmo assim: que se foda esta merda toda!! arre porra!!!

(Não se preocupem, tentarei a todo o custo não baixar mais que isto, mas isso, talvez seja querer coisas impossíveis.)