29.5.07

Sem Título

Acho que sou o poeta da vida real. O que quer dizer, obviamente, que não sei escrever.

22.5.07

Namorar

As pessoas não sabem o que é namorar. Já ninguém tem tempo, ou não quer ter tempo. A malta pensa que namorar é andar de mão dada para todo o lado e dar muitos beijinhos na boca à frente dos amigos.
Meus caros, venho por este meio anunciar que o namoro acaba quando se dá o primeiro beijo. Isto é, acaba quando pensamos que começou. Venho por este meio decretar o fim do namoro. O fim das hostilidades. Namorar é uma seca! Namorar é para os fracos! Já Platão dizia: para seres filósofo e viveres em função da filosofia não deverás ceder às tentações do corpo. Este é o fim de todas as ridículas cedências, da humilhação até ao osso. O primeiro beijo é somente a ponta do iceberg, é o princípio do fim, é a morte da paixão. A partir daí só o pior pode acontecer.
O verdadeiro namoro é precisamente tudo o que se passa antes de haver contacto físico, quando tudo se resume à imaginação de cada um dos intervenientes. É quando há fantasia e mistério no ar e quando só se diz parvoíces. Nesses momentos, tudo nos parece interessante na outra pessoa. Se ele/ela mora em Benfica, isto é por demais fascinante e até o facto de ele/ela trabalhar num restaurante tem o seu quê de misterioso ou mesmo de glamour. Isto sim, é namorar. Aquela sensação no estômago sobejamente conhecida, e, claro, perdida aquando do mortífero primeiro beijo. A partir daí estamos condenados a uma horrível morte lenta com momentos de interminável dor e agonia.
Companheiros, meus caros companheiros tenham a coragem de assumir a vossa solidão. Tenham coragem de viver a vida sozinhos sem contrapartidas, sem cedências. Sejam livres, porra!

21.5.07

Suffer My Desire

Ela já se fartou daquilo tudo. Já não vai ao café com os amigos. São sempre as mesmas conversas, sempre as mesmas brincadeiras tão chatas. Ela sente-se tão fora, tão a mais. Ela não é de lado nenhum, a nada pertence, não é de ninguém. Ela tem cabelos negros e longos que brilham. Ela não está cá. Ela queria outro sítio, outra vida, outro corpo, outra alma. Ela perdeu-se. Naquele olhar profundo, naquela voz desinteressada. Ela perdeu-se. Vagueou pelas ruas, deu pontapés em pedras e latas velhas. Chorou, dançou, gritou. Lindos olhos, grandes, negros, exóticos, perdidos. Ela perdeu-se e eu perdi-me com ela.

"You're lost little girl,
Tell me who are you? "

20.5.07

Construção

Sopa de Letras
Autor: Chico Buarque
Álbum: Construção
Ano: 1971
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contra-mão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Sopa de Letras

Aproveito este dia de chuva para estrear uma rubrica no QCI. Este será um espaço com um único fim: destacar algumas das melhores letras escritas para canções, tendo como critério...o meu gosto pessoal ou simplesmente fases. Naturalmente darei preferência às letras que melhor sobrevivem sem música - o que não é fácil! É provável que se repitam aqui algumas vezes nomes como Bob Dylan ou Leonard Cohen, dado que estes são unanimemente considerados os grandes poetas do rock. É claro que não só de rock viverá esta rubrica, visto que o Brasil também tem muito para nos dar em termos de textos para músicas contando com nomes incontornáveis como Vinicius De Moraes ou Chico Buarque. É precisamente com este último, que decidi inaugurar este novo espaço.

17.5.07

Are You Experienced?

Experiência no abstracto? Claro que não! O que é a experiência? Nada que nos interesse afinal...A experiência é querer ouvir Pink Floyd, Beatles, Morphine... Tomorrow Never Knows e respectivos afilhados. Jeff Buckley, Tindersticks, Love. Tomorrow Never Knows. Surrender To The Void. O que acham disto? Have you ever been experienced? Think Twice.


"Strange days have found us,
And through their strange hours,
We linger alone,
Bodies confused,
Memories misused,
As we run from the day
To a strange night of stone."
~
Jim Morrison in "Strange Days", 1968

11.5.07

Control

Parece que é desta: foi finalmente anunciada a estreia do biopic sobre Ian Curtis (1956-1980), realizado por Anton Corbjin, para Setembro deste ano. Isto, numa altura em que os New Order dão por fim a sua prodigiosa carreira e quando já passaram 27 anos sobre a morte do enigmático vocalista dos Joy Division.

O filme teve como base o livro que Deborah Curtis, esposa do cantor, publicou em 1996 com o nome Touching From a Distance e contou, a espaços, com a participação dos membros sobreviventes da mítica banda inglesa que após a morte de Curtis, viria a dar origem aos New Order. O papel principal chegou a ser atribuído ao actor Jude Law, mas acabou por ir parar ao desconhecido Sam Riley que, curiosamente, nasceu precisamente em 1980.

Em homenagem ao atormentado vocalista, o QCI deixa aqui algumas das suas palavras.

"Some things never make sense,
A fear of stepping out,
Crouches shivering in the corner, blanket round your shoulder,
Hot then cold, cold then warm, pulse is racing, slowly racing - stopped.
I remember nights spent listening to until dawn,
I remember nothing.
Door slowly opens,
Johnny sits on his bed,
Lays down and dies."
Ian Curtis in Johnny 23, 1979

10.5.07

Querer Coisas Impossíveis

Só quero coisas impossíveis. Raios! Só quero coisas impossíveis!

Mas eu nunca vejo mais que os outros. Sou sempre o último a saber das coisas, sou sempre o último a aperceber-me de algo. Enfim, nunca oiço nada à primeira, e quando alguém me está a tentar explicar algo que eu devia forçosamente perceber, é aí que eu disperso e ponho-me a pensar em coisas impossíveis.

Estou a fazer este blog numa noite em que me sinto arrasado pela frustração, e assim decidi fazer uma coisa, que à partida, eu sei que será impossível manter. Porquê? Porque sou um coitadinho que acha sempre que não consegue fazer as coisas só porque a vida é muito difícil, ou porque isto ou porque aquilo e mais um monte de desculpas forçadas a fim de justificar a inércia e o comodismo (passe a semi-redudância) que dominam o meu dia-a-dia.

Escrevo este blog, porque assim penso que faço algo de criativo e muito bom. Para me sentir bem, por achar que vou ser alguém por causa disto. Por achar que sou um gajo com pinta e talento que nunca vai ser ninguém, que sabe disso, mas que no fundo, até é isso que tem uma certa piada e o incita a continuar com os seus devaneios que não levam a lugar algum.
Há aqui um certo egoísmo. Para quem é que eu não sei. Em última análise, sou simplesmente egocêntrico e escrevo estas palavras por me achar o maior. É que assim já posso dizer: "durante o dia trabalho num café, mas à noite faço coisas muito interessantes como escever e tal...". Assim sou muito underground!!! Sou alternativo, "ele é dos nossos", sei o que quer dizer a palavra hype!

É impossível que eu mantenha por muito tempo este blog. É quase tão certo como ninguém ler esta merda. Bom, já que disse uma asneira, olhem, que se foda! A partir de agora é mesmo assim: que se foda esta merda toda!! arre porra!!!

(Não se preocupem, tentarei a todo o custo não baixar mais que isto, mas isso, talvez seja querer coisas impossíveis.)