No dia 7 deste mês passou um ano desde a morte de Syd Barrett. Um dos maiores mistérios do universo rock dos últimos quarenta anos que, na verdade, já andava "desaparecido" desde 1972. Fundador, vocalista, guitarrista e principal compositor do soberbo disco de estreia dos Pink Floyd - The Piper At The Gates Of Dawn (1967, em Setembro serão assinalados os quarenta anos do álbum com uma nova edição tripla) - é hoje visto como aquele-que-podia-ter-sido-mas-nunca-foi, o génio que virou as costas ao sucesso, ao glamour, ao estrelato inerentes a uma estrela rock.
Syd Barrett saiu dos Pink Floyd em 1968, quando a sua saúde mental estava já num estado muito degradado. Recusava-se a tocar em alguns concertos, não respondia às questões dos jornalistas, desaparecia com frequência, ficava horas a tocar o mesmo acorde entre outros hábitos cada vez mais bizarros. Tendo em conta este comportamento, os restantes membros da banda (Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason) já se tinham prevenido com a inclusão de David Gilmour (guitarra e voz) o que terá feito dos Pink Floyd um quinteto durante um curto espaço de tempo, até que um dia, segundo Gilmour, a caminho de um concerto, simplesmente optaram por não ir buscar Barrett e foi assim que este deixou de ser membro da banda.
O segundo disco dos Floyd, A Saucerful of Secrets (1968), continha ainda uma última composição de Barrett intitulada Jugband Blues, interpretada pelo próprio, que fechava o disco envolto numa neblina misteriosa e alucinada. Posto isto, em 1970, e com a ajuda preciosa de Waters, Gilmour (que era amigo de infância de Barrett) e Wright, ainda lançou dois intrigantes discos - ambos em 1970, primeiro The Madcap Laughs, depois Barrett - para pouco mais tarde se eclipsar totalmente e viver praticamente o resto da vida em casa da mãe em Cambridge (onde morreu no ano passado). Muitas foram as tentativas ao longo de mais de trinta anos de entrar em contacto com Syd Barrett, mas este escusou-se a falar da sua vida com os Pink Floyd a maior parte das vezes, mostrando um desinteresse total por tudo o que fez nessa altura.
Estas foram as suas últimas palavras escritas para os Pink Floyd em 1968 e que demonstram o quão alienado estava Barrett já nesta altura, sendo que o mais assustador ainda é dar a entender que tinha consciência do que lhe estava a acontecer:
"It's awfully considerate of you to think of me here
And I'm most obliged to you for making it clear
That I'm not here.
And I never knew the moon could be so big
And I never knew the moon could be so blue
And I'm grateful that you threw away my old shoes
And brought me here instead dressed in red
And I'm wondering who could be writing this song."
Até hoje poucos foram os que conseguiram igualar o génio de músicas como Astronomy Domine ou Interstellar Overdrive. Barrett foi sempre um fantasma na carreira dos Pink Floyd, sendo referido e servindo de inspiração para alguns dos pricipais discos da banda nomeadamente The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975, a faixa que dá nome ao álbum é-lhe dedicada), The Wall (1979) e The Division Bell (1994). Syd viveu sempre de costas viradas ao sucesso cada vez maior que a sua banda veio a atingir nos anos seguintes à sua saída. Terá sido mera loucura? O mistério prevalece. The Madcap Laughs.